Reflexões Planetárias

Tuesday, December 23, 2008

As explicações de Souto Moura

Transcrevo estas linhas de uma recente entrevista de Souto Moura (SM), editada na Newsletter n° 76 SGG (Saint Gobain), Dezembro de 2008:
"A Historia sempre quis desmaterializar os edifícios, para conseguir mais aberturas, para ter mais luz e assim ter mais ligação ao exterior.
(...)a história da arquitectura, sob o ponto de vista construtivo, é, no essencial, a história da desmaterialização dos edifícios, que é completada por essa ausência de paredes, substituídas pelo vidro, chegando-se ao limite de haver edifícios só em vidro, em que a proporção da estrutura em relação à superfície transparente é quase diminuta.
Mas aqui levantava-se uma outra questão, a ultrapassar. Os edifícios em vidro trazem consigo, problemas de sustentabilidade. Então, desenvolveu-se tecnologias para responder àquilo a que antigamente eram paredes que tinham inércia térmica, tendo-se encontrado respostas para a segurança e qualidade do ambiente interior. Então o vidro evoluiu (...)
Criaram-se bons vidros de reflexão de infra-vermelhos, que evitam que o calor exterior não entre, e que a temperatura do interior, não passe para o exterior..."

Conheço SM apenas das revistas e entrevistas. Conseguí ver de longe uma obra sua nas imediações do Moledo, o que é pouco mais do que nada.
Respeito-o como um bom profissional que tem a obsessão de fazer o trabalho bem feito, no elevado sentido que lhe dá Richard Sennett em "The Craftsman".
Tudo o que diz SM importa e merece uma leitura construtiva. Por isso permito-me destacar criticamente os três passos sublinhados:

"A Historia sempre quis desmaterializar os edifícios". Souto Moura parece querer enfileirar a sua propensão minimalista numa tendência histórica da arquitectura para a desmaterialização.
Da arquitectura? Da arquitectura gótica? Ou da arquitectura moderna? Ou de certa arquitectura moderna? Vem-me à mente a exposição do trabalho de Zumthor que recentemente passou por Lisboa.
Inércia térmica... segurança e qualidade do ambiente interior... vidro. SM toca num problema de conforto importante associado à leveza e transparência que preocupou sériamente os pioneiros da arquitectura nos anos vinte. Mas será que os vidros reflectantes resolveram esse problema tornando dispensável a inércia térmica... e não criaram outros. Será tudo assim tão simples, tão... transparente? Não me parece.
O defeito pode ser meu que estou a entender mal, mas não é de certeza quando ele põe a temperatura a passar de um lado para o outro como se fosse calor. Aliás por isso nós somos sensíveis ás transferências de calor e não ás temperaturas. São estas imprecisões que criam problemas ambientais que remetem para próteses adicionais e que impedem a resolução de outros que poderiam nem sequer existir. Envidraçado a sul-poente, bela ardózia no pavimento, ambiente interior insuportável, portadas, ar condicionado...

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