Reflexões Planetárias

Tuesday, April 12, 2011

O imbróglio do crescimento económico

O crescimento económico é hoje uma vaca sagrada. Ai de quem o questione!
É preciso para alimentar uma população crescente. O que é uma verdade globalmente incontestável.
É preciso para melhorar o nosso nível de vida. O que é uma verdade, a partir de certo ponto, discutível.
Há uma terceira razão avançada por William Ophuls: facilita a governação democrática numa sociedade desigual pautada por valores materiais. Porque todos ganham com o crescimento: “A rising tide lifts all boats"! Os ricos ficarão cada vez mais ricos, mas os pobres menos pobres, alimentando-lhes até a ilusão de que um dia poderão vir a ser ricos, o que propicia o conformismo e a paz social.
Numa economia estabilizada, a riqueza de uns será a pobreza dos outros, numa cada vez mais gritante desigualdade social que se tornará explosiva.
A primeira razão não se aplica ao ocidente rico do hemisfério norte. A segunda aplica-se com algumas reservas a países "novos-ricos" como Portugal que chegaram tarde à festa do "progresso".
A terceira é, a meu ver, a grande razão que leva os ricos a centrarem as suas preocupações no crescimento económico e no emprego. Decerto, porque é indispensável para sustentar o lucro financeiro. Mas, não menos importante, porque diminui o risco da conflitualidade social. Não por amor aos pobrezinhos, sentimento sem sentido no contexto do "darwinismo social" que impera na sociedade neo-liberal em que vivemos.
É por essa razão que a actual recessão assusta os ricos e que eles nem querem ouvir falar nos limites naturais ao crescimento.
A recessão está a tornar-se socialmente insustentável mas, por outro lado, o paradigma do crescimento económico (1) atenta contra a limitada capacidade de carga do nosso planeta, pondo em causa a sustentabilidade dos ecossistemas que nos sustentam e, portanto, a nossa própria sustentabilidade. Os ecossistemas não existem para sustentar a humanidade. Nós é que existimos porque eles o permitem, coisa que muitos ecologistas reconhecem com humildade, mas que os economistas adeptos do "crescimento económico" teimam arrogantemente em não reconhecer. As tentativas fracassadas para fabricar ecossistemas mostram quão ignorantes somos sobre a sua complexidade. A ignorância alimenta a arrogância.
Eis o imbroglio do crescimento económico em que estamos todos embarcados, com a oligarquia possidente dos ricos amedrontados ao leme.
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(1) Competentes economistas que fazem a opinião pública perfilham este paradigma. É o caso "paradigmático" de Victor Bento, quando afirma com convicção, no seu recente livro "Economia Moral e Política" que o crescimento económico "é, em última instância e a longo prazo, fundamental para a satisfação de praticamente todos os outros objectivos, desde as aspirações de melhoria do nível de vida, ao emprego, áqueles que se relacionam com uma vertente a que costuma ser associado o adjectivo "social" e até à projecção de poder pela sociedade política no contexto internacional".

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