Reflexões Planetárias

Thursday, July 07, 2011

O Capitalismo e a Tecnologia (1)

O liberalismo que está na raiz do capitalismo só reconhece individuos.
"Is not a man better than a town?" A pioneira autoconfianca exaltada por Ralph Emerson está impregnada de individualismo evangélico no pragmatismo americano: o homem, fundamentalmente bom, só tem que prestar contas a Deus, defender-se da corrupção social, das instituições sociais e sobretudo do Estado que, por isso deve ser minimo.
Na evolução vitoriana do individualismo, a sociedade fragmenta-se numa "luta pela sobrevivência" dos indivíduos uns contra os outros e contra a natureza.
O único elo de relação entre esses indivíduos que perseguem o lucro pelo artifício é a competição.
Competição regulada para bem de todos pela mão invisível do mercado, uma espécie de Deus ex-máquina que premia os mais fortes e castiga os mais fracos.
Eis o "darwinismo social" de matriz calvinista (segundo Max Weber) que influenciou o darwinismo natural na linha dura que vai de Thomas Huxley a Richard Dawkins (no Gene Egoísta).
A "Natureza", não é mais do que uma natureza selvagem em que as outras espécies repetem a mesma encarniçada competição.
Esta Natureza tem que ser domesticada para segurança, exclusivo proveito e glória destes seres singulares e, in fine, dos mais fortes entre eles.

Esta é a teoria pura que professam os fundamentalistas do mercado, do libertarianismo capitalista. A prática é coisa contraditória bem diferente!
O capitalismo não se desenvolve num vazio de (outras) ideias e práticas sociais que influenciam a evolução do próprio capitalismo.
O seu impeto competitivo menospreza os favores da natureza e a cooperação social, mas eles são incontornáveis e estão patentes na realização dos projectos individuais e no merging de grandes Empresas Transnacionais (ETN) tendencialmente tecnocráticas, lógico aboutissement da concorrência, em frontal contradição com o individualismo burguês inicial!

A perseguição do ambicionado poder remete para a tecnologia, a instrumentalização do mundo, a eficaz capacidade de mobilizar meios para alcancar fins, medida pela eficiência que anda de par com o sucesso dos mais capazes, dos mais aptos.
A lógica da eficácia, a tecno-lógica, catapultou o "darwinismo social" e a domesticação da Natureza que está no seu "código genético", contribuindo decisivamente para a globalização capitalista, ganha a Guerra Fria com a implosão da URSS.

"Tecnologia e Hubris" afinal!
Tecnologia e Hubris não são uma novidade na história das civilizações. Novidade é a aceleração do progresso tecnológico na nossa sociedade que, por isso, designamos por "Sociedade Tecnológica".

É para mim hoje bem visível que o progresso tecnológico conduzirá à nossa destruição, se não invertermos o signo hubrístico deste capitalismo desenfreado, introduzindo o tal "suplemento de alma" que falta à nossa Sociedade Tecnológica segundo Ellul, citando Bergson... ou espirito, ou ética, ou moral, ou valores, ou travões tradicionais, ou o que mais lhe quizerem chamar.

(1) Retomo hoje "O mítico capitalismo", reconsiderando a relação entre capitalismo e tecnologia.

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