Reflexões Planetárias

Friday, June 29, 2012

Brincadeiras perigosas

...if the [the environmental] catastrophe isn’t…averted – [then] in a generation or two, everything else we’re talking about won’t matter.
Noam Chomsky, cit. Paul Street
O sistema de mercado está de novo em crise no mundo ocidental, não conseguindo cumprir a sua conditio sine qua non: crescimento económico!
Isto apesar de dispormos hoje, graças ao progresso das ciências e das artes, de uma capacidade de realização nunca antes alcançada.
Uma ordem de razões de natureza social, apontada por Polanyi para a primeira grande crise do capitalismo, reside na resistência da sociedade à sua subordinação ao império do mercado. Hoje, devemos acrescentar-lhe as deslocalizações que flagelam os trabalhadores da Europa e dos Estados Unidos e que agravam o desemprego tecnológico.
Mas há uma outra ordem de razões que Polanyi não descortinou e que hoje não é menos importante: a "resistência" da natureza. O abuso hubrístico do progresso tecnológico associado ao ansiado crescimento económico, põe em risco o ambiente relativamente estável que favoreceu a vida humana na terra, ao longo dos 10.000 anos da época holocénica em que (ainda) nos encontramos.
É evidente que os mandarins e sacerdotes do mercado não querem reconhecer esta contrariedade ecológica, ficando-se pelo "technical fix". Porquê? Porque faz cair pela base o seu sacrossanto crescimento económico. Mas também, porque as grandes alterações ecológicas não são imediatas... O que não impede que não possam ocorrer num futuro próximo, atingidos "limiares críticos": o conceito de planetary boundaries incluído no "draft negotiating text" da Conferência do Rio+20 está hoje em discussão no seio da comunidade científica.
"Todos nós temos obviamente outros assuntos muito mais importantes a atender." Foi com esta sobranceria que o Presidente Obama liquidou as negociações durante a reunião de Chefes de Estado, na "2009 Copenhagen Climate Conference".
Neste mundo cada vez mais desigual que cede à pressão dos mais ricos, a ordem de prioridades de Obama na conferência de Copenhaga em 2009 foi a que esteve patente na sua ausência e no discurso proferido por Hillary Clinton no nado-morto Rio+20 em 2012: o primado do mercado autoregulado, dos mercados financeiros, sobre a sociedade e a natureza.
Vinte anos depois da primeira conferência do Rio, continuamos a lavrar no mesmo "erro epistemológico".
Por isso, estamos na mesma... ou pior!
No dia em que a natureza se zangar a sério acabam-se as brincadeiras do capitalismo desenfreado... e lá vamos nós com elas! Acabemos pois com as brincadeiras!

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