Reflexões Planetárias

Friday, October 12, 2012

Casas pequenas

Há boas razões de ordem prática para preferirmos casas pequenas.
Em princípio, quanto mais pequenas são as casas menor é o seu custo inicial, bem como são menores os custos de manutenção.
Para mais, o que poupamos no custo inicial poderá compensar maiores custos associados à localização, permitindo-nos aceder a zonas centrais mais apeteciveis pela sua vida urbana, ou a zonas excêntricas mais valorizadas pela sua qualidade ambiental.
Casas mais pequenas, em que tudo está mais à mão em estantes, armários e bancadas que aproveitam engenhosamente paredes e recantos da construção, podem economizar passos e movimentos nas lides domésticas, libertando-nos para tarefas que poderão ser mais gratificantes. Eis a "pequena" casa eficiente, equacionada nestes termos por Catherine Beecher... nos meados do século XIX!
As casas pequenas são apropriadas para famílias pequenas e, designadamente os idosos, parte crescente do universo das famílias portuguesas, mas é compreensível que não atraiam as familias mais numerosas, nem os que precisam de casas grandes por uma questão de status ou para guardar uma grande quantidade coisas que vão acumulando ao longo da vida.
Vêm estas reflexões a propósito do vídeo clip inserido neste artigo que dá a conhecer os resultados de uma ronda pelo mundo das casas pequenas construidas e habitadas na América e na Europa. Casas pequenas, mínimas que traduzem nos seus escassos 10 ou 20 m2 um minimalismo extreme no viver, seja no espírito naturalista da cabana artesanal de Henry Thoreau, seja no espírito maquinista do Dymaxion de Buckminster Fuller.
A ronda começa pela América em que, logo nos primeiros exemplos se vê que uma grande fileira das casas pequenas se filia nas "caravanas", as "mobile homes" que proliferaram nos Estados Unidos, chegando a atingir um terço das moradias construidas na década de setenta. O que move esta população nómada? Um espírito de self-reliance? A procura de novas sensações? Razões mais pragmáticas como a poupança no custo do terreno ou a busca de novos empregos? Decerto uma boa ideia para o nosso Ministro Álvaro Santos Pereira!



Mas há uma outra ordem de razões que poderá justificar casas pequenas, mas que não parece estar muito presente nas entrevistas. As preocupações que se avolumaram desde os anos noventa, com a consciencialização ecológica gerada pelo impacte ambiental da modernização industrial que foi alastrando a toda a nossa vida quotidiana, passada nos transportes e nos edifícios.
São as preocupações com a designada "sustentabilidade ambiental", ao nível das cidades e ao nível dos edifícios.
Quanto ás cidades, a generalização de casas mais pequenas torna as cidades mais pequenas para a mesma população e por isso mais acessíveis a pé ou de bicicleta, o que pode torná-las mais apraziveis e animadas.

Quanto aos edifícios e na parte que aqui interessa, essas preocupações levaram a procurar alentar e fechar os ciclos da energia, dos fluídos e dos materiais, incluindo os materiais de construção e a energia neles incorporada, em casas ditas "bioclimáticas", adaptadas ao clima local para nosso conforto.

As casas pequenas, além de reduzirem a "pegada ecológica" que imprimem directamente in loco, ajudam a aproveitar melhor os edifícios existentes e a usar menos materiais, o que vai no sentido da sustentabilidade.
Mas, casas pequenas na forma de mini-moradia... não nos ajudam a poupar nos aparelhos de aquecimento e arrefecimento, porque são muito sensíveis ás variações do clima, aos golpes de calor e de frio e a outros fenómenos extremos que tendem a aumentar com as alterações climáticas que a miopia economicista não nos deixa mitigar!
E quanto à sustentabilidade dos materiais, não chega usar menos. Temos também que usar os mais sustentáveis, de que são exemplo os reciclados ou a terra crua colhida no local a que retorna naturalmente no fim de vida da construção, para dar lugar a outra casa ou ao campo... Uma espécie de eterno retorno, no contexto circular em que as casas pequenas têm o seu pequeno lugar!
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Figura extraída da versão portuguesa do livro "A Green Vitruvius". Ao que suponho, ainda hoje o único primer em português, visando introduzir a sustentabilidade no projecto de arquitectura, foi editado pela Ordem dos Arquitectos. Nunca foi sériamente debatido pela classe e há anos que se encontra esgotado.

1 Comments:

At 5:18 PM, Anonymous Anonymous said...

Pois, realmente nao chega serem pequenas para serem sustentaveis... nao tinha pensado nisso (e penso que mts pessoas do documentario tb nao). Podem promover um estilo de vida mais sustentavel, uma vez que as pessoas, por forca, teem d passar a consumir menos: isso sim. Por outro lado, outra coisa que tb m pareceu interessante, foi a da mobilidade: as primeiras casas eram uma especie de roulottes! E claro, o detalhe de esse movimento aparecer, num pais onde 'e tudo "em grande": os estados unidos! :-)

 

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