Reflexões Planetárias

Wednesday, November 21, 2012

O Montepio Geral e a ética

Fiz-me sócio de Montepio Geral por ser uma associação mutualista e, como tal, subordinar a lógica financeira ao princípio da solidariedade.
A deriva financeira, associada à globalização que nos está a arrastar para uma profunda depressão social, abalou o capital de confiança que depositava no sistema bancário, mas mantinha ainda uma reserva em relação ao Montepio Geral.
Esclarecimentos que vieram a lume por ocasião das eleições dos orgãos directivos para o próximo triénio (2), agravam suspeitas que pôem em causa essa reserva.
Saliento três, socorrendo-me para tal, da informação contida no documento redigido pela Lista "C" para o Conselho Geral.
- Um facto:"Com a última alteração aos Estatutos, foi retirado aos associados de uma forma permanente qualquer controlo da Caixa Económica que passa a ser controlada pelo Conselho de Administração por via da sua representação maioritária no orgão de fiscalização." Torna-se muito difícil a oposição dos associados, através do Conselho Geral, a "erros" de gestão como o seguinte;
- Uma suspeita reforçada: As "poupanças dos associados" podem ter sido e vir a ser utilizadas "na compra de empresas cujos activos tóxicos se desconhecem ou em investimentos de elevado risco," Tendo conhecimento das boas práticas da "banca ética" (1), solicitei informações sobre aplicações dessa natureza, a um gerente de contas do Montepio que mostrou não entender o que eu pretendia;
- Um facto chocante: Os cinco membros do Conselho de Administração desta associação mutualista que vive das poupanças da classe média, ganham em média cerca de 400.000 euros por ano, ou seja, mais de sessenta vezes o salário mínimo e, pasme-se, cerca do dobro do que ganham os seus congéneres da Caixa Geral dos Depósitos... que não é propriamente uma associação de benemerência! Ah! e já agora, têm direito à pensão reforma cumpridos vinte anos de serviço. Refiro-me aos administradores e não aos trabalhadores que para o efeito, precisam de trabalhar os tais trinta e cinco anos.
Pasmo como é que um frade franciscano alinha numa lista que vem de trás com este passivo... Ou talvez não!

O nosso problema, nesta sociedade de mercado em que estamos embarcados, é um problema económico, um problema de modelo económico, o problema de uma infernizante teoria de mercado de cariz mecanicista, baseada em pressupostos reconhecidamente falsos. Mas associado a esse problema económico sobrepuja um problema ético. Ético, não no sentido estrito da consciência individual, mas no sentido da consciência social e, ainda mais, no sentido da consciência ecológica.
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(1) ver aqui
(2) Os resultados das eleições para o próximo triénio, realizadas no passado dia 7 de Dezembro, mostram uma maior consciencialização dos associados do Montepio, mas estão ainda longe de alcançar uma expressão eficaz.

4 Comments:

At 7:54 AM, Blogger Jo said...

Uma grande contradiçao para um banco mutualista, e tb para a igreja catolica onde um padre FRANSISCANO tem uma reforma de 7450 euros:

O padre Vítor Melícias, ex-alto comissário para Timor-Leste e ex-presidente do Montepio Geral, declarou ao Tribunal Constitucional, como membro do Conselho Económico e Social (CES), um rendimento anual de pensões de 104 301 euros. Em 14 meses, o sacerdote, que prestou um voto de obediência à Ordem dos Franciscanos, tem uma pensão mensal de 7450 euros. O valor desta aposentação resulta, segundo disse ao CM Vítor Melícias, da "remuneração acima da média" auferida em vários cargos.

 
At 1:33 PM, Blogger Ana Margarida said...

Considero esta informação bastante interessante. Na inexistência de um banco ético em Portugal suponha ser o Montepio aquele onde uma poupança da nossa família estaria melhor aplicada, já que pôr o dinheiro lá fora num banco ético como o Triodos deixaria ainda um pouco mais depauperada a economia nacional. Estes dados somam às notícias desagradáveis de há dias sobre o Finantia Angola de que o Montepio é o principal accionista.

Agora a minha questão, para a qual não consigo ter resposta satisfatória é esta: Qual é o banco português mais ético (ou menos não ético). Será ainda assim o Montepio?

As coisas estão organizadas de uma forma que a informação sobre as taxas de juro é espremida e divulgada até às centésimas, mas nada se sabe sobre o que é feito com o nosso dinheiro. Há um pressuposto absurdo (hoje em dia) de que as pessoas só querem saber quanto vão ganhar e não ao que é que vão ajudar.

Nesta monotonia de posturas comerciais o que me parece é que alguém (bancos, pessoas) que se começem a diferenciar
pela positiva vão ter um futuro radioso.




















 
At 7:02 PM, Blogger Fausto Simoes said...

Nas eleições que se consumarão amanhã, perfila-se a hipótese de o Montepio Geral, "começar a diferenciar-se pela positiva", por via do Conselho Geral, se ganhar a lista C e se esta vier a cumprir o que se propõe fazer: "devolver aos associados o controlo da Caixa Económica que é o banco do Montepio", indo ao encontro do que entendo ser a natureza de uma associação mutualista que é a do Montepio Geral.
Entretanto não tenho notícias sobre a instalação de um "banco ético" como o Triodos em Portugal. Mas esperemos que não tarde! É que não temos onde colocar as nossas parcas economias sabendo para onde vão

 
At 12:02 AM, Blogger Fausto Simões said...

Em 13 de Fevereiro passado, Sofia Santos (http://greensavers.sapo.pt/2012/11/19/sofia-santos-irao-surgir-bancos-mais-pequenos-e-com-servicos-especificos/) esteve no auditório da Agência Portuguesa do Ambiente a falar sobre ética bancária.
É bem compreensivel que o gerente de contas do Montepio ignorasse o que pudesse ser uma "banca ética". É que para os bancos a ética circunscreve-se ás suas responsabilidades perante os acionistas que se traduzem na maximização dos lucros.
Mas o quadro está a mudar na Europa, com alguns grandes bancos, como o Barclays(!), a mostrarem outras preocupações éticas associadas ao papel que poderão desempenhar num desenvolvimento sustentável... a que é mais sensível o sector de marketing do que o dos "poderosos" analistas de risco! Parece paradoxal mas não é.
E depois, cresce o número dos "bancos éticos" como o Triodos, com uma interessante particularidade: indices de solvabilidade da ordem de 14%... quando os bancos portugueses convencionais, mesmo com as injecções da troika (à nossa custa), andam pelos 8%!
Em Portugal é o deserto quasi absoluto, com alguns fundos especiais para cumprir exigências europeias, como no caso do BES. Acontece que o Triodos está registado no Banco de Portugal... mas não parece que chegue cá tão cedo. Também se pode perceber porquê!

 

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