Reflexões Planetárias

Saturday, November 08, 2014

A história ainda não acabou!

Beijing festeja este ano, com grande pompa, o 110º aniversário do nascimento de Deng Xiaoping. Deng está de volta... mas só na televisão, comenta Carl Minzer no Los Angeles Times
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Façamos um flashback para tentar enquadrar o que está a acontecer.
A gestão da Sociedade Moderna não poderá ser senão capitalista, pois que, assentando na inovação e, designadamente na inovação tecnológica, carece cada vez mais de avultados investimentos em indústrias e serviços cada vez mais capital-intensivos.
O capitalismo seguiu dois caminhos paralelos nos século xx, desde o fim da I Grande Guerra até ao colapso da da União Soviética; durante cerca de setenta anos, dividiu-se entre um capitalismo de mercado, em que o capital é privado e um capitalismo de estado em que o capital é público, originando uma competição entre dois grandes blocos liderados, um pelos Estados Unidos e o outro pela União Soviética. A política da "guerra fria" evitou uma confronto apocalíptico potenciado pela tensão política e pelo arsenal bélico que se foi acumulando, designadamente as armas nucleares.
Dado o colapso da União Soviética, Francis Fukuyama anunciou o "fim da história" com a vitória definitiva do capitalismo de mercado, abrindo-se o caminho à globalização da "sociedade de mercado" numa Nova Ordem Internacional.
Não foi isso que veio a acontecer.
O grande progresso dos transportes e das comunicações facilitou a globalização do capitalismo de mercado mas o "darwinismo social" perverteu o mercado pois que o poder se foi concentrando en grandes grupos económicos transnacionais (ETN) e nos seus "shareholders", assim como o poder público na União Sovietica foi apropriado pelos homens da "nomenklatura" convertidos ao capitalismo de mercado.
E o que aconteceu é que, na grande maré da globalização, o capitalismo de mercado hegemonizado pelas ETN chegou ao grande locus comunista persistente que, com Mao Tse Tung, vivia fechado sobre si próprio: a China.
Deng Xiaoping abiu a China ao mundo e acolheu essas empresas, sobretudo na mira do seu know how. Elas cresceram e com elas uma classe mercantil chinesa que começou a ameaçar o poder do Estado (*).
Chegamos aos nossos dias e, com Xi Jinping surge a reacção: a China, lentamente, volta a fechar-se sobre si própria e ressurge o confronto entre o capitalismo de estado e o capitalismo de mercado, mas agora, não entre dois blocos mas dentro de um estado-nação: a China!
Afinal não estamos no fim da história que tem desenvolvimentos inesperados. Era só o que faltava a esta Europa desvertebrada, a braços com uma austeridade imposta pela Alemanha que contava com a China para sustentar o seu crescimento económico e com ele o seu ordoliberalismo!
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(*) Segundo Joseph Needham, citado por George Basalla, "a existência de um sistema feudal burocrático mitigou o crescimento de uma classe mercantil chinesa suficentemente poderosa para afectar as políticas e acções governamentais". Esta "burocracia asiática" milenar, criada no século III A.C. com a unificação dos estados beligerantes da China numa monarquia centralizada, veio até aos tempos modernos em que vestiu a pele do comunismo e está agora ameaçada pela nova geração de capitalistas chineses. Nestes termos não se pode ignorar a dimensão histórica da ameaça e da resposta que se pode esperar.

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